Edgar Vivar e Rubén Aguirre falam de seu trabalho com Chespirito


  
    “Sabia que as pessoas seguem dizendo que você e eu estamos loucos”, diz um dos personagens que Roberto Gómez Bolaños criou e que, segundo dois de seus colaboradores mais próximos, também uma resposta para os detratores que criticam seu “humor simples e popular”.
 
    Para o ator Edgar Vivar, um habitante do universo chesperiano – tendo em conta que o apelido de Gómez Bolaños significa “pequeno Shakespeare” – até a comédia de Aristófanes foi classificada para as classes baixas e ainda assim se manteve por sua universalidade que, diz, também reflete Chespirito.

    “Na medida em que mais se toma um tema ou grupo, ou uma situação (na comédia), vai se reduzindo o leque as possibilidades; o objetivo é fazer o maior número de pessoas rirem, fazem mais universal o riso, creio que esse é o grande mérito de Roberto, seu humor é muito universal”, disse Vivar sobre o comediante mexicano que nesta sexta-feira completa 85 anos.

    Há mais de quatro décadas que Roberto Gómez Bolaños apresentou o Chapolin Colorado, o Chaves e o Doutor Chapatin, personagens que se inseriram no imaginário coletivo do mexicano e de outros países da América Latina, com rotinas humorísticas inocentes em alguns casos e torpes em outros, diferentes no duplo sentido.

    “Seus roteiros tinham três coisas: a simplicidade, a pureza, porque era muito puro o que fazia, e a engenhosidade terrível, já disse o mesmo Chespirito, o drama chega ao coração, mas a comédia chega ao cérebro, à inteligência, é mais difícil triunfar na comédia que com o drama, muito mais difícil, e Roberto conseguiu porque tem a inteligência suficiente e a capacidade para fazer roteiros que chegam à inteligência”, disse Rubén Aguirre.

    Rubén, que deu vida ao Professor Girafales no Chaves, recorda as críticas que o programa teve no início das transmissões, ao ser marcado como “um programa para bobos” ou “um programa tonto”, mas que, segundo Aguirre, ao final cumpriu a função de suprir uma necessidade de grande parte da sociedade.

    A televisão mexicana viu nascer a série Chespirito em 1970, no Canal 8 – de onde surgiu o nome do Chaves - para se manter no ar por 25 anos. Nela, Gómez Bolaños realizava esquetes com personagens que anos antes havia criado, como Chapolin Colorado, um anti-herói que, pese sua pouca inteligência, vencia o medo para salvar os que necessitavam de ajuda.

    Em uma entrevista no Chile em 2008, Gómez Bolaños assegurou que o Chapolin abriu-lhe as portas na televisão, enquanto que o Chaves ganhou o carinho das pessoas. Esse menino órfão que vivia em um barril e que gostava de sanduíche de presunto conquistou o coração de milhões de pessoas na América.

    “Sempre haverá uma criança que não é brilhante por falta de alimentação, um senhor que não paga o aluguel, uma mãe superprotetora, essas são as bases da comédia, exagerar os rasgos dos personagens para provocar risos”, disse Edgar Vivar sobre a forma como Chespirito buscou retratar a realidade de vários países do continente.

    No mesmo plano, Rubén Aguirre vê o Chaves em qualquer vizinhança mexicana, nas favelas do Brasil ou em condomínios da Argentina. “Existe a vizinhança em todas as partes”.
“Eu creio que (Gómez Bolaños) se baseia na vida real (para construir seus personagens), não só do Professor Girafales; por exemplo, Seu Madruga, um tipo que não encontra trabalho, que tem má sorte, mas é honrado, é bom e no fundo, não é mau, mas tem isso que lhe vá tudo mal (…) há muitas coisas no roteiro baseadas na vida real”, disse Aguirre em entrevista telefônica.


O gênio nas letras de Chespirito:

    Mais do que um amigo, Edgar Vivar considera Roberto Gómez Bolaños como um mestre que lhe ensinou “a pausa na comédia, de entender quais são os mecanismos do riso”.
“Eu posso dizer que pude ter a honra de ter o melhor escritor na televisão mexicana para me escrever um personagem”, disse o homem que encarnou o Senhor Barriga em Chaves e o Botija em Los Caquitos.

    “A mim me tirou de ser um ator medíocre em uma figura da televisão (…) atores como eu, como Ramón (Valdés), Quico (Carlos Villagrán), graças a um personagem, a ideias de um senhor como Roberto Gómez Bolaños se fazem da noite à manhã populares, não só no México, mas em toda a América”, disse o Professor Girafales.

    Aguirre disse que na construção de seus personagens, 100% do trabalho era de Gómez Bolaños, “nós éramos zero, tudo era dele”. Ainda que eles contribuíssem com algumas frases como o “ta-ta-ta-ta” de Girafales, que o ator de 80 anos tirou de um professor do primário.

    “O ta-ta-ta-ta equivale para a pessoa que para não estourar conta até 10, contar até 10 para não se irritar, aqui para não gritar, não bater, explodir”, disse Aguirre, enquanto que Vivar recordou que a improvisação não estava permitida com Chespirito, tudo era ligado ao roteiro.

    “Isso não queria dizer que não se permitia a inclusão de piadas, se podiam fazer durante o ensaio, que fossem de acordo com o personagem, a ação dramática, e que fossem boas”, disse Edgar Vivar, que considera como um objetivo para sua carreira desligar-se de seus personagens que o fizeram popular ao lado de Gómez Bolaños.


“Que bonita vizinhança”:

    Outra chave do êxito do programa Chespirito foi a convivência de seu elenco por mais de duas décadas, algo parecido com “brincar” dentro do set.
“Toda essa dinâmica, todo esse êxito que se teve, se não nos déssemos bem, não seria possível; existe um mecanismo que é a seleção natural, então houve gente que se separou e houve gente que ficou, e o êxito prevaleceu, porque o êxito estava baseado, como tudo, no trabalho e na dedicação”, disse Edgar Vivar.

    Rubén Aguirre disse que o trabalho com o elenco de Chespirito era muito divertido, “brincávamos muito”, em especial com piadas que fazia Ramón Valdés.
“Uma vez, no cimento (de uma banca de um estádio) Ramón foi dormir e ao vê-lo ali dormindo nos ocorreu algo, encontramos várias velas, e começamos a rezar como se estivesse morto (…) quando acordou, tomou coragem e nos correu, mandando-nos longe”, lembrou o ator.

    Edgar Vivar destacou a igualdade que imperava no cenário, pese a ser Roberto Gómez Bolaños a figura central do programa, cada um dos personagens tinha a mesma importância.
“Ele era o que produzia, idealizava, que dava a cada um seu brilho, ele poderia ter sido egoísta em algum momento e escrever para ele as melhores piadas, mas não, sempre compartilhou”, concluiu.

Via:  Jorge Eduardo Gómez/CNN México / Fórum Chaves

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